Dag Hammerskjӧld

As palavras podem ter uma força maior, mais construtiva ou destrutiva que qualquer engenho pela só diferença que as palavras desafiam o tempo, elas podem propagar, cruzando gerações indefinidamente.

“Reze para que a solidão o encoraje a encontrar algo pelo que viver, grande o suficiente pelo que morrer”

Mas para além da força, as palavras parecem ocultar profecias que transcendem a literalidade delas, um mistério que desafia a própria compreensão que temos do tempo.

“Nunca olhe para baixo para testar o chão antes de dar o primiero passo; só quem fixa os olhos no horizonte distante encontrará o caminho certo”

São assim as palavras de Dag Hammerskjӧld; talvez por isso a Livraria das Nações Unidas, tão repleta de documentos sobre a paz e, portanto, tão cheia de palavras como as dele, por uma justa coincidência, tenha sido batizada com seu nome.

“Não procure a morte. A morte encontrará você. Mas procure o caminho que faz da morte o cumprimento de um dever”

Sobre Dag HammersKjӧld, todos sabem que ele foi um diplomata singular, de atitudes corajosas, de ímpar sensibilidade como escritor e dos mais notáveis Secretário-Geral das Nações Unidas, que muito de seu prestígio histórico se deve ao caráter inconsútil de homens como ele.

Dag HammersKjӧld é daqueles homens raros que de tempos em tempos surgem aqui ou acolá.

“A jornada mais longa é a jornada interior. Daquele que escolheu seu destino. Que iniciou depois de se perguntar qual era a sua razão de existir”

O sentido oculto de suas frases conduzem à reflexão inquietante: a relatividade da vida em face da resolutividade da Morte que, invés de obscurecê-la, ilumina-a com as forças necessárias a superar as fraquezas e tropeços na trajetória que se passa, intimamente, entre o Bem e o Mal na direção da Liberdade e da Justiça, dos quais deu Nikos Kazantzakis um dos mais límpidos testemunhos nas palavras que inscreveu em seu pétreo epitáfio.    

A Numerologia ungiu Dag HammersKjӧld: Ele nasceu em 29 de Julho de 1905, mesma data em que cinco anos antes se instalava, em Haia, a Primeira Conferência de Paz do mundo (1899), predecessora da Conferência de São Franciso de 1945, da qual nasceria a ONU e que seria por ele secretariada (1953-1961).

Como é biblicamente sabido, morre-se pelo que se vive.

Foi assim que sucedeu a Dag. Ao se dirigir pessoalmente para uma perigosa missão de paz no distante Congo, Dag embarcou num arriscado voo noturno. Ao entrar a bordo do DC-6 Albertina, Dag subia nas asas de suas próprias frases proféticas, com quem tinha um encontro marcado em Ndola (hoje, em Zâmbia), minutos depois da meia noite do dia 18/09/1961. Nenhum dos 16 ocupantes da aeronave sobreviveu à sua violenta colisão com o solo naquela noite escura.

Dag HammersKjӧld foi o único homem contemplado com o prêmio Nobel da Paz após a morte, e o vazio que homens como ele deixa evoca as três coisas que nos resta fazer, na poesia de Fernando Sabino.

Se David Hallett Carr nos adverte ser utópica a ética teórica sem a prática, Dag HammersKjӧld nos prova que é possível prática ética.

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