Os Acidentes Aéreos e Suas Coincidências

25 Anos Depois, o Rio Potomac Outra Vez

Às 20:48 de Washington, nesse dia 30 de Janeiro de 2025, duas aeronaves colidiram nas proximidades do Aeroporto Ronald Reagan, mergulhando nas gélidas e escuras águas do Rio Potomac. Trata-se de uma colisão do jato comercial regional operado pela American Airlines (64 ocupantes), que se aproximava para pouso, e um helicóptero militar Black Hawk, ocupado por 3 militares. A sorte daquelas pessoas não é nada animadora. Nesse momento, às 02:06 local, 19 corpos foram encontrados.

Esse post não é para dar notícias do acidente de hoje, mas para lembrar de um outro, que aconteceu em 13 de Janeiro de 1982, naquele mesmo rio Potomac, há 43 anos, quando o Boeing 737-200 da Air Florida, cumprindo o voo 90, devido ao “engelamento severo”, não foi capaz de decolar, colidiu na 14th Street Bridge e mergulhou no rio Potomac. Dos 79 ocupantes do avião (74 passageiros e 5 tripulantes), 70 passageiros e 4 tripulantes perderam suas vidas, além de quatro ocupantes de veículos atingidos pela aeronave.

Esse aeroporto, junto ao Rio Potomac, chamava-se Aeroporto Nacional de Washington em 1982; em 6/2/1998, Bill Clinton assinou a lei que batizou o aeroporto com o nome do Presidente Ronald Regan, que era o 40º Presidente dos Estados Unidos, em 1982, quando aconteceu o acidente com o Boeing da Air Florida.

Na literatura aeronáutica, o acidente foi catalogado como “O Acidente do Rio Potomac”.

Foi um acidente que marcou minha vida, porque li sobre ele na primeira Revista Time que comprei, em uma livraria do Gonzaga, em Santos, aos 16 anos. Os impressionantes detalhes daquele acidente determinaram que, anos mais tarde, fizesse o curso de investigação de acidente aeronáutico no CENIPA, em Brasilia, em 2004, em complemento ao brevet, que adquirira em 2000, em Sorocaba.

A audição da caixa preta daquele avião, revelando o que conversavam os pilotos nos seus últimos momentos de vida, também me afetou… O co-piloto, responsável pela decolagem, grita para o comandante: “Larry, nós vamos cair!!”, ao que o Comadante replica: “Eu sei!!”. Em seguida, ouve-se o último registro, o estrondo da explosão da aeronave. A investigação foi conclusiva ao apontar a culpa dos pilotos, que não cuidaram de se certificarem de que a aeronave não estava recoberta de gelo antes da decolagem. 

Em 23 de Julho de 2019, publiquei um livro de crônicas sobre Acidentes Aéreos, onde esses infaustos eram analisados não sob a perspectiva técnica, mas explorando as sempre muito, muito intrigantes coincidências que cercam os acidentes aéreos. Era o “Asas do Destino” e o “O Acidente do Rio Potomac” ocupava, honrosamente, o primeiro Capítulo, intitulado “1982 – O Homem nas Águas”.


“1982 – O Homem nas Águas”

Era a segunda quinzena de Janeiro de 1982. Aos 16 anos, eu está preocupado em melhorar meu Inglês…

Assim, absorto, eu caminhei da Rua Carlos Gomes, bairro simples de Santos, até o Gonzaga com a intenção de comprar algo na Livraria Saraiva para praticar meu Inglês. Lá chegando, passeando os olhos pelas prateleiras, deparei-me com uma Revista TIME.

Interessei-me por ela e a levei para casa. À noite, eu a tentava ler, desconcertadamente notando como ainda era fraco o meu Inglês para entender o seu conteúdo.

Quando, finalmente, depois de consultar o velho dicionário dezenas de vezes, consegui entender a matéria, fiquei admirado com a estória de um dos passageiros daquele infeliz voo do jato da Air Florida, o Flight 90, que colidiu, segundos após a decolagem, com a 14th Street Bridge e mergulhou nas frias águas do Rio Potomac…  

 Naquela gelada quarta-feira de 13/01/1982, morreram 74 dos 79 ocupantes do Boeing 737-222. Entre os destroços da aeronave, havia um “misterioso homem” nas águas do rio. ​Ele foi avistado entre os flutuantes pedaços de gelo pelos funcionários do resgate que vieram fazer o socorro dos seis acidentados sobreviventes. Sempre que os socorristas jogavam a corda de resgate de um helicóptero para aquele homem, ele passava sua vez para a pessoa ao lado. Isso aconteceu por três vezes. Quando, finalmente, o resgate retornou das margens para levá-lo, o desconhecido não foi mais encontrado.

 Definitivamente, o homem identificado apenas como um “cidadão” sumira sem que sua vida pudesse ser salva.

 Por muito tempo, o misterioso homem habitou minha imaginação. Tudo o que se sabia dele é que era um homem careca, meia idade… Ele foi considerado um herói e a sua solidariedade lembrada como um exemplo norte-americano. Mas, a sua identidade acabou sendo descoberta algum tempo mais tarde.

Foi o próprio Presidente Ronald Reagan que anunciou, em 1983, que um bancário de 46 anos de Atlanta era o “herói misterioso” do acidente do Air Florida “do ano passado” – o homem que passou a corda salva-vidas para outros antes de afundar no rio Potomac coberto de gelo. O Presidente explicou que uma investigação da Guarda Costeira apurou que O “desconhecido herói careca do Rio Potomac” era o Sr. Arland D. Williams Jr., “o herói que deu sua vida para que outros pudessem viver”.

“Vocês podem viver com um tremendo orgulho…”

Foram as palavras de Ronald Reagan para os pais e os dois filhos de Arland Williams, durante a cerimônia de condecoração póstuma dele com a Medalha de Ouro de Salva-Vidas da Guarda Costeira, na Sala Oval.

Uma antiga namorada de colegial do Sr. Arland foi encontrada e entrevistada, dando conta de uma incrível coincidência: Ela contou que Arland, vulgo “Chub”, tinha problemas na escola (Citadel), porque tinha medo de água. 

Mais curiosamente: O apelido de adolescência de Arland, “Chub”, é o nome de um peixe magro, de costas cinza-escuro e barriga branca e que vive nas águas frias de rios europeus…​ Já o seu nome, Arland, de origem hebraica, significa “promessa”.

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